Eu caminho entre sombras, arrastando memórias,
O passado desfeito em cinzas de histórias.
Cada passo é um eco de um tempo que some,
E a morte me observa, sem pressa, sem nome.
Sei que ela me espreita no fim da avenida,
Num gole de uísque, na dor mal-cicatrizada,
No fumo que dança no ar envenenado,
Ou na esquina esquecida do meu próprio fado.
Com que rosto virás, amante impiedosa?
Serás bela e suave, ou fria e penetrante?
Esperarás que eu cante meu último verso,
Ou silenciarás minha voz no próximo momento?
Teu beijo terá o gosto amargo do nada,
Ou o doce mistério da estrada selada?
Virás como vento, num golpe voraz,
Ou em lenta agonia, sem nunca ter paz?
Oh, Morte, dançaremos um baile macabro,
Te odeio, te anseio, em preces me abro.
Mas veste-te bem quando vieres me ter,
Pois, mesmo em teu laço, desejo viver.
E se minhas cinzas na terra repousam,
Que alimentem as flores que nunca murcham.
Pois sigo na vida, no nada, no grito,
No erro, na rima, no copo não findo.
Vem, mas demore... deixa-me errar,
Deixa-me amar, deixa-me odiar.
Pois no fim, quem sabe, a grande ferida
Não seja a morte, mas esta vida.
10 mar 2025 (11:31)