SM Lino

Escrutinador

Escrutinador
(Por Sandro MS Lino)

Como Ymir, eu adormeci congelado,
Envolto no frio das incertezas,
Até que teu mundo, um planeta de fogo,
Aproximou-se — rasgou meu gelo.
O suor, então, desceu em rios de tormento,
E dele, como deuses primordiais,
Nasceram minhas imaginações:

Os deuses do teu toque, da tua voz,
Das palavras não ditas e dos sorrisos rápidos,
Das paisagens que imagino ao te olhar,
Dos silêncios que me atravessam no escuro.

Sozinho, eu derreto estrelas no travesseiro,
Crio mundos onde tu és o Sol,
E eu, orbitando em loucura, me desfaço.

Se ao menos pudesse entrar na tua mente,
Espreitar os templos sagrados dos teus pensamentos,
Medir as respostas que não encontro:
Onde errei? Onde quase fui?
Qual deus devo ser para que me vejas?

Em esquinas invisíveis, cruzo pernas, faço poses.
Na tua ausência, forjo novas divindades:
O deus da voz perfeita — grave e sussurrada,
O deus das roupas impecáveis e barba precisa,
O deus que conversa apenas o necessário,
Que sabe ser fogo e gelo, sexy e recatado.

Mas são deuses frágeis, feitos de suor,
Filhos do meu tormento e da tua indiferença.
Eles me olham, me julgam, me questionam:
\"Quanto tempo devo ficar?
Quantas mensagens devo enviar?
Qual palavra aciona o cosmos do teu desejo?\"

Como Ymir, eu derreto ao te imaginar,
Sou suor que tenta criar vida,
Um estudo, uma tese de mim mesmo,
Tentando ser o que jamais fui.

E talvez, se ao menos te escrutinasse,
Penetrasse o fogo do teu mundo,
Veria que meus deuses são apenas delírios,
Que tu és planeta distante, intocável.

E eu? Simplesmente não sou.

Então velaria, em silêncio, a dor de tentar,
De ser o gelo que derrete,
Criando deuses que jamais te alcançam