Areia em minhas mãos
escorrendo para o chão quente
como pedaço de corpo da terra árida
que o vento quente sufoca
palavras enterradas na areia
que ninguém conhece
segredos mortos pelo insuportável
calor abrasador
o povo segue seu caminho como filho de terra que a água partiu
a chuva despreza as areias
somos os olhos do deserto
caminhando rumo ao sol poente
para descansar
viver na imensidão da solidão
com a companhia do vento
e do imenso deserto
talvez chova amanhã
talvez sopre vento fresco
e revele as poesias escondidas por baixo da areia
que nos consome
feroz
irredutível
palavras doces como água
sepultadas na areia do tempo parado
as montanhas se calam
como que intimidadas
pelo ardor do dia
que se nega a findar
talvez a noite
revele com o vento frio
o conforto
de palavras tão poéticas
escondidas de nossos
olhos
nossos camelos
repousam
nós seguimos as estrelas
que avançam a noite
ela muda
em seus segredos
com seus poemas
ocultos
na aurora
da vida
no limiar
dos ponteiros
do oriente