Sezar Kosta

A SAUDADE QUE ENSINOU A VOLTAR PARA CASA

Quando a saudade bater à porta, 

não feche os olhos, 

não vire as costas, 

deixe que ela entre com os pés descalços, 

com o silêncio do que ficou para trás. 

Ela não é apenas a ausência 

que ecoa em cada canto vazio, 

mas o pulsar de um amor que se fez sombra, 

tecendo-se nas tramas da memória. 

 

Ela chega, às vezes, 

com o rosto molhado de lembranças 

e os olhos cansados de tanto procurar. 

Parece que a dor é sua única veste, 

mas ela carrega consigo a beleza 

daquilo que já não se pode tocar, 

mas ainda ressoa em cada respiração.

 

Em seu abraço apertado, 

pode haver a melancolia 

do que se foi, 

mas também o perfume da eternidade 

que vive nas coisas que amamos. 

A saudade é mestra da arte de cultivar o invisível, 

de fazer florir, no campo árido do tempo, 

as raízes profundas de quem fomos.

 

Permita-se, então, 

sentir cada lágrima como uma gota de aprendizado, 

não como um peso, 

mas como o alicerce silencioso 

de uma construção que você ainda é. 

Aceite a dor com a mesma ternura 

com que se aceita a noite que chega sem pressa, 

sabendo que ela também trará o amanhecer. 

 

Porque a saudade, no fundo, 

não nos deixa sozinhos. 

Ela nos carrega para dentro de nós mesmos, 

e, no fim, nos ensina a voltar para casa. 

E mesmo que o caminho pareça longínquo, 

há sempre algo que permanece intacto 

no meio da tempestade.