Quando a saudade bater à porta,
não feche os olhos,
não vire as costas,
deixe que ela entre com os pés descalços,
com o silêncio do que ficou para trás.
Ela não é apenas a ausência
que ecoa em cada canto vazio,
mas o pulsar de um amor que se fez sombra,
tecendo-se nas tramas da memória.
Ela chega, às vezes,
com o rosto molhado de lembranças
e os olhos cansados de tanto procurar.
Parece que a dor é sua única veste,
mas ela carrega consigo a beleza
daquilo que já não se pode tocar,
mas ainda ressoa em cada respiração.
Em seu abraço apertado,
pode haver a melancolia
do que se foi,
mas também o perfume da eternidade
que vive nas coisas que amamos.
A saudade é mestra da arte de cultivar o invisível,
de fazer florir, no campo árido do tempo,
as raízes profundas de quem fomos.
Permita-se, então,
sentir cada lágrima como uma gota de aprendizado,
não como um peso,
mas como o alicerce silencioso
de uma construção que você ainda é.
Aceite a dor com a mesma ternura
com que se aceita a noite que chega sem pressa,
sabendo que ela também trará o amanhecer.
Porque a saudade, no fundo,
não nos deixa sozinhos.
Ela nos carrega para dentro de nós mesmos,
e, no fim, nos ensina a voltar para casa.
E mesmo que o caminho pareça longínquo,
há sempre algo que permanece intacto
no meio da tempestade.