Todos os dias dezenas de pessoas
passam na rua pelo nosso lado
Dezenas de corpos anônimos
centenas de sonhos malogrados
milhares de silêncios aprisionados
Vidas vêm e vidas se vão
no corre-corre agitado das calçadas
No cruzar de tantas histórias
biografias não escritas não serão lembradas
e uma multidão de fotografias na futuridade
estarão apagadas, rasgadas ou incineradas
No meio dos desejos alheios que desconheço
os meus se movem evitando o toque
Olhares esquivados
bocas caladas
ouvidos tampados
afetos ignorados
a finta dos ombros
o gingar dos quadris
incontáveis abraços sonegados
e toda uma biblioteca de livros fechados
No congestionado baile da vida
para cuja festa fomos convidados
desejos parecem não querer se encontrar