joaquim cesario de mello

NO MEIO DAS MULTIDÃO

 

Todos os dias dezenas de pessoas

passam na rua pelo nosso lado

 

Dezenas de corpos anônimos

centenas de sonhos malogrados

milhares de silêncios aprisionados

 

Vidas vêm e vidas se vão

no corre-corre agitado das calçadas

 

No cruzar de tantas histórias

biografias não escritas não serão lembradas

e uma multidão de fotografias na futuridade

estarão apagadas, rasgadas ou incineradas

 

No meio dos desejos alheios que desconheço

os meus se movem evitando o toque

 

Olhares esquivados

bocas caladas

ouvidos tampados

afetos ignorados

a finta dos ombros

o gingar dos quadris

incontáveis abraços sonegados

e toda uma biblioteca de livros fechados

 

No congestionado baile da vida

para cuja festa fomos convidados

desejos parecem não querer se encontrar