Mereço o abismo,
Pois é no abismo,
Que cada suspiro perdido se dissolve,
Que cada passo errante se justifique,
Que cada silêncio insuportável ecoe,
Que cada lágrima caia sem razão,
Que cada sombra se alongue,
Pois é no abismo,
Que a dor se alimente da própria essência,
E o vazio se torne morada eterna.
Mereço a noite sem fim,
Pois é na noite,
Que cada sonho quebrado se revele,
Que cada medo se faça carne,
Que cada erro se perpetue,
Que cada arrependimento se prolongue,
Que cada esperança se desfaça,
Pois é na noite,
Que o amanhã se perde,
E o ontem nunca chega.
Mereço a solitude,
Pois é na solitude,
Que cada palavra não dita se entenda,
Que cada silêncio não vivido se lembre,
Que cada gesto perdido se retorne,
Que cada dor se ampare,
Que cada ferida se abra,
Pois é na solitude,
Que o ser se reconcilia com o não-ser,
E o tempo se desfaz em dor.
Mereço o fim,
Pois é no fim,
Que tudo o que é, finalmente, cessa,
Que o peso do viver se dissolve no ar,
Que a ausência de sentido se torne verbo,
Que a eterna busca de paz se acabe,
Que a dor se torne apenas lembrança,
Pois é no fim,
Que o passado, enfim,
Se cala e o coração se perde
Na última melancolia.
25 fev 2025 (12:44)