Sezar Kosta

O AMOR QUE SE FAZ SILÊNCIO

No início, eu o via como um grito,

uma tempestade que nos arrasta,

um redemoinho que se desfaz em dor,

nos lançando contra as pedras

onde confundimos vertigem com voo.

Era um trovão,

o vento desarrumando as horas,

o pânico da chegada.

 

Mas hoje sei: o amor não apressa.

Ele caminha com os passos suaves,

como quem volta à casa

sem pressa de perder o pôr do sol.

É o calor do chá em mãos cansadas,

o som abafado do mundo

só encontrado em um abraço.

 

É no que não se diz:

na mão que encontra a outra,

como um suspiro sem palavra.

O amor mora na pausa

entre o que dizemos,

no jeito que o olhar fala

quando os lábios se calam.

 

Não precisa de grandes gestos

para ser lembrado.

É o peso do sofá ao fim do dia,

quando o silêncio não pesa,

mas acolhe.

É a toalha esquecida,

o café que se esfria,

esperando o fim da tarde.

 

O amor também é espinho,

o corte que surge sem aviso,

o erro que nos ensina a perdoar.

Não é um caminho reto,

mas uma estrada que tropeça,

que nos ensina paciência

e nos lembra: amar é ficar,

mesmo quando partir parece fácil.

 

Ele não é frenesi nem fogo

que consome,

mas raiz que se crava no solo,

esperando a estação certa para florescer.

É a mão que guia,

o farol que brilha na neblina,

calmo, constante.

 

E quando aprendemos a vê-lo,

o amor não é só emoção,

mas o solo firme onde existimos,

sem máscara, sem medo.

Não é o sofá em que descansamos.

É o chão que nos sustenta,

o teto que nos protege,

o silêncio que abraça.

 

No fim, o amor não é frenético.

Ele é a calmaria depois da tormenta,

o instante em que respiramos

e sabemos que, finalmente,

somos.