No início, eu o via como um grito,
uma tempestade que nos arrasta,
um redemoinho que se desfaz em dor,
nos lançando contra as pedras
onde confundimos vertigem com voo.
Era um trovão,
o vento desarrumando as horas,
o pânico da chegada.
Mas hoje sei: o amor não apressa.
Ele caminha com os passos suaves,
como quem volta à casa
sem pressa de perder o pôr do sol.
É o calor do chá em mãos cansadas,
o som abafado do mundo
só encontrado em um abraço.
É no que não se diz:
na mão que encontra a outra,
como um suspiro sem palavra.
O amor mora na pausa
entre o que dizemos,
no jeito que o olhar fala
quando os lábios se calam.
Não precisa de grandes gestos
para ser lembrado.
É o peso do sofá ao fim do dia,
quando o silêncio não pesa,
mas acolhe.
É a toalha esquecida,
o café que se esfria,
esperando o fim da tarde.
O amor também é espinho,
o corte que surge sem aviso,
o erro que nos ensina a perdoar.
Não é um caminho reto,
mas uma estrada que tropeça,
que nos ensina paciência
e nos lembra: amar é ficar,
mesmo quando partir parece fácil.
Ele não é frenesi nem fogo
que consome,
mas raiz que se crava no solo,
esperando a estação certa para florescer.
É a mão que guia,
o farol que brilha na neblina,
calmo, constante.
E quando aprendemos a vê-lo,
o amor não é só emoção,
mas o solo firme onde existimos,
sem máscara, sem medo.
Não é o sofá em que descansamos.
É o chão que nos sustenta,
o teto que nos protege,
o silêncio que abraça.
No fim, o amor não é frenético.
Ele é a calmaria depois da tormenta,
o instante em que respiramos
e sabemos que, finalmente,
somos.