O universo é uma página em branco,
onde palavras não se escrevem,
mas se perdem no vento,
no espaço,
como acordes que ainda não foram tocados,
como notas disperas
que nunca souberam a melodia que as uniria.
Cada estrela, um verbo lançado
sem saber a frase que formaria.
Cada galáxia, um parágrafo de silêncio,
uma pausa interminável
em um livro sem fim.
Eu sou um leitor perdido em cada página
que nunca se vira virada.
O cosmos, este livro de infinitas folhasm
não possui começo nem fim.
Ele é o silêncio da palavra que nunca foi dita,
o eco de uma história que não começou
nem saberia como acabar.
É como abrir um livro
onde todas as palavras falham em ser,
onde o conteúdo é o vazio
e a falta é o único significado.
E as melodias, estas sim,
são as palavras do universo.
Elas não se ouvem,
elas se sentem.
São harmonias ocultas,
rítmicas, como pulsações de uma estrela
que nunca se vê brilhar.
Elas atravessam o espaço
como um fio de luz que percorre a noite,
tentando tocar o que não pode ser tocado.
E cada acorde é uma estrela perdida,
cada acorde é a busca por uma palavra que nunca existiu,
mas que todos procuramos.
A harmonia do cosmos é a língua universal,
não precisa de fonemas,
não precisa de letras.
Ela é a música que preenche o que não se pode ver.
Um livro sem palavras,
um livro onde a escrita não se faz,
mas se ouve em cada passo daquilo que nunca será lido,
um músico de uma canção inacabada,
perdido entre as páginas que nunca foram viradas,
e os acordes que nunca foram tocados.
No fundo, o universo é um livro em constante
reescrita,
onde a música é a linguagem que ninguém
compreende.
Mas, na dúvida, sempre buscamos o próximo
acorde,
a próxima página,
a próxima palavra que desabrochará
e nos guiará para o mistério
do que não pode ser dito.
E ao seguir esse ritmo,
esse movimento constante de ideias e estrelas,
talvez, ao final, seja o próprio vazio
a única melodia veradeira,
a única palavra que ecoa
no livro que nunca sabemos
se já foi escrito
ou se será para sempre escrito
nos silêncios da eternidade.