Sezar Kosta

ETERNO PRISIONEIRO DO AMOR

Se este amor é prisão,

que seja a cela forjada em teu corpo,

com paredes moldadas por abraços

e grades entrelaçadas de suspiros.

Não há sentença mais justa

do que ser réu dos teus olhos,

onde a luz condena

mas também redime,

um cárcere onde a sombra é impossível.

 

Teus braços, labirintos de afagos,

me perdem para que eu me encontre.

Teus toques – algemas de carícias –

me prendem com a doçura do mel.

Pois é ao teu lado que respiro livre,

é no cativeiro que danço solto.

Que cárcere é este, tão vasto, tão leve,

onde só a ausência pesa como ferro

e a distância é o carrasco da saudade?

 

Na liturgia do cativo devoto,

há sinfonias no despertar da tua voz,

há galáxias no adormecer da tua pele.

Meu corpo se adapta ao confinamento,

como um pássaro que canta na gaiola,

não por ignorar a vastidão do céu,

mas por fazer do teu peito

um universo menor, mais seguro.

 

Ah, sublime destino de amar e arder,

sendo chama que ilumina

sem jamais consumir!

A liberdade, dizem os sábios,

é o mais precioso dos dons,

mas eu a troco, em êxtase,

por este cárcere onde o tempo

é medido em batidas do teu coração.

 

Assim, não busco fuga,

nem imploro redenção.

Se amar é voar dentro da prisão,

que me chamem de \"eterno prisioneiro\".

Pois não há voo mais alto

que escolher, em plena consciência,

as correntes que nos fazem

mais humanos, mais divinos.