Alexandre Heitor Carlini Mendes

Outro Jeito

I

Outra vez no precipício estreito

Mesma viagem... mesma velha estrada

E o erro fatal desta empreitada...

Pensar que este é o meu único jeito

 

Lembra... nesta relva se deitava comigo

Neste monte que avista o mar furioso

Desdenhávamos do futuro ditoso

Mas o mar já detinha meu “eu” consigo

 

Houve um tempo que teu sorriso

Ofuscava Tétis deia ao fundo

Mas desvaneceu como sol moribundo

Sob as ondulações do mar indiviso

 

E naveguei no mar que me regia

Desta praia ao mundo imenso

Sem importar que teu choro corria denso

O mar me obrigava... assim mentia

 

O mundo girou, o mar ficou baço

E a hora de meu retorno adiava...

Era este meu lugar, ainda me enganava

Assim fui... postergando teu doce abraço

 

Só quando cada deque, cada osso

Se encontrasse gasto e usado e torto

A escolha de tornar a proa ao porto

Ganharia meu relutante endosso

 

II

Chego ao cais numa manhã ensolarada

Sino prata toca...avisa minha aportada

Enquanto de outro, a grave badalada

Ecoa férrea, faz tua partida anunciada

 

A verdade atropela, ao chão deita

Mas, primeiro, cai a máscara acerba

Para que o homem veja, sem soberba

O quanto de sua ruína lhe peita

 

O coração já não bate nesta hora

Pois hoje fugiu de quem fugia de ti

Foi, e, se de te alcançar não desisti

Oceano Maior nos separa agora

 

Na colina que avista o mar, deslinda o drama

Abraçado à pedra fria de teu adeus

Meus olhos vertem como outrora os teus

Sonhando a noite... epílogo desta trama

 

Outra vez no precipício estreito

Mesma viagem... mesma velha estrada

E o erro fatal desta empreitada...

Pensar que este era o meu único jeito

 

Alexandre H C Mendes