I
Outra vez no precipício estreito
Mesma viagem... mesma velha estrada
E o erro fatal desta empreitada...
Pensar que este é o meu único jeito
Lembra... nesta relva se deitava comigo
Neste monte que avista o mar furioso
Desdenhávamos do futuro ditoso
Mas o mar já detinha meu “eu” consigo
Houve um tempo que teu sorriso
Ofuscava Tétis deia ao fundo
Mas desvaneceu como sol moribundo
Sob as ondulações do mar indiviso
E naveguei no mar que me regia
Desta praia ao mundo imenso
Sem importar que teu choro corria denso
O mar me obrigava... assim mentia
O mundo girou, o mar ficou baço
E a hora de meu retorno adiava...
Era este meu lugar, ainda me enganava
Assim fui... postergando teu doce abraço
Só quando cada deque, cada osso
Se encontrasse gasto e usado e torto
A escolha de tornar a proa ao porto
Ganharia meu relutante endosso
II
Chego ao cais numa manhã ensolarada
Sino prata toca...avisa minha aportada
Enquanto de outro, a grave badalada
Ecoa férrea, faz tua partida anunciada
A verdade atropela, ao chão deita
Mas, primeiro, cai a máscara acerba
Para que o homem veja, sem soberba
O quanto de sua ruína lhe peita
O coração já não bate nesta hora
Pois hoje fugiu de quem fugia de ti
Foi, e, se de te alcançar não desisti
Oceano Maior nos separa agora
Na colina que avista o mar, deslinda o drama
Abraçado à pedra fria de teu adeus
Meus olhos vertem como outrora os teus
Sonhando a noite... epílogo desta trama
Outra vez no precipício estreito
Mesma viagem... mesma velha estrada
E o erro fatal desta empreitada...
Pensar que este era o meu único jeito
Alexandre H C Mendes