Quisera eu, como a borboleta,
Ser crisálida e esperar
Que o tempo me vestisse em cores,
Que a vida me ensinasse a voar.
Mas meu casulo é feito de medo,
De ausências que não escolhi,
De portas trancadas no peito,
De laços que nunca vivi.
Se um dia eu amar, terei que esconder,
Se um dia eu sonhar, será só pra mim.
Minha história não cabe na mesa,
Nos risos que um dia chamei de jardim.
Os aniversários, os almoços,
São quadros que não me incluem.
E se um dia eu tiver uma casa,
Ela nunca verá de onde eu fui.
Metamorfose interrompida,
Asas que não podem abrir.
Pois voar requer horizonte,
E o meu nunca esteve aqui.