khali

O SilĂȘncio de uma Liberdade Perdida

Ela se perde nas palavras do outro, nas exigências silenciosas que, de tão repetidas, parecem ser a única verdade. O mundo ao seu redor é feito de vontades que não são suas, e ela se deixa guiar por elas como se fosse a única forma de existir. Não há questionamento, nem revolta, apenas a aceitação tranquila de que ser é obedecer. E nisso, ela vai se apagando. Vai se esvaziando, como se a alma fosse um recipiente que, a cada gesto do outro, perde um pedaço de si mesma.

 

O amor, que lhe dizem ser amor, é feito de vínculos invisíveis, fios que amarram, não libertam. Ele vem disfarçado de carinho, mas é só prisão, é só silêncio. E ela não sabe mais como se liberar, como respirar sozinha. Cada palavra dita pelo outro é uma sentença que ela cumpre sem perceber, e, ao cumprir, se vê se tornando uma versão distorcida de si mesma. Como se o espelho não fosse mais um reflexo de sua verdade, mas uma imagem feita pelas mãos de alguém que jamais se questionou sobre quem ela realmente é.

 

O medo é uma constante. O medo de estar só, o medo de desaparecer, o medo de ser reduzida a nada. E assim, se rende. Ela não sabe o que significa ser inteira, porque, talvez, nunca tenha aprendido a ser. Seu ser se mistura ao outro, e ela se deixa moldar por um amor que não a compreende. Mas o que se diz amor, quando a liberdade se esvai como areia entre os dedos? O que se diz amor, quando a alma se perde nas expectativas que nunca foram suas?

 

E o outro, que a olha com olhos possessivos, não vê que, ao tentar dominá-la, está destruindo a essência do que poderia ser um encontro verdadeiro. Mas ele não sabe disso. Ele também está preso em suas próprias expectativas, em seu próprio medo. E ela, em sua entrega, se afasta de si mesma, se dilui, se dissolve. Até que um dia, talvez, ela não se reconheça mais, não saiba onde termina ela e onde começa o outro.