Metamorfose

Inércia do Ser

O tempo escorre, mas não o sinto,

é um rio parado, sem corrente, sem destino.

A vida desfalece em tons desbotados,

sem pressa, sem brilho, sem laços atados.

 

O ser se dilui no espaço imutável,

um eco disperso, um vulto insondável.

O afago se perde na ausência de cor,

um toque esquecido, um sopro sem dor.

 

Talvez precise aceitar essa maresia,

um nada que pesa, que prende, que esfria.

Mas há sombras que quero soltar de mim,

raízes que sufocam, que ferem sem fim.

 

Se perto me perco, distante me acho?

Ou apenas me torno um rastro sem traço?

Que se vão as âncoras, que se vá o sofrer—

quero ser leve, ainda sem saber como ser.