Teobaldo Dias

Não! Não sei quem sou! Não sei o que faço!

Não! Não sei quem sou! Não sei o que faço!
Não sei sequer se sou eu quem agora escreve estas palavras,
ou se sou apenas uma mão que se move por conta própria,
uma boca que fala sozinha nas ruas do pensamento.

Eu? Quem é esse que me espreita do espelho com olhos desassossegados?
Que me imita os gestos, que boceja quando bocejo,
mas que não sente nada do que eu sinto?
Ah, a vida, a vida!
Esse estrondo que me atravessa sem eu nunca saber de onde vem!

Sim, queria ser tudo! Ser um grito na praça! Ser um violino nas mãos erradas!
Ser o cheiro dos pães quentes pela manhã,
ser o riso de uma criança que nunca soube que o mundo desaba!
Mas sou? Mas fui?
Ou sou só a sobra do que nunca aconteceu?

Queria ser aqueles que vivem sem pensar,
os que passam apressados para o trabalho, os que têm horários, obrigações, certezas,
os que não choram a meio do dia porque sim,
os que não sentem na pele um arrepio de ausência sem saber do quê.
Mas eu! Eu tenho este excesso de pensar! Esta febre de mim mesmo!
Este espelho partido que reflete mil faces de ninguém!

Eu sou um bêbado de sensações! Um drogado de pensamentos!
Um entusiasta desvairado que se ergue e cai a cada minuto!
Sou a pressa e o tédio! O êxtase e o nada!
Sou um concerto de trovões no meio de um domingo quente!
Ah, como é insuportável existir! E como é maravilhoso!

Queria ser simples! Deus, como eu queria ser simples!
Queria ser apenas um homem que acorda, veste-se e sai sem questionar o peso do dia!
Mas estou sempre dentro de mim como um labirinto!
Sou uma casa sem saída, um poeta sem poema, um cigarro aceso num quarto vazio!

E a infância? A infância!
Ah, essa terra prometida que se fechou para sempre!
Eu fui feliz? Talvez! Mas lembro-me da felicidade como se a tivesse lido num livro antigo!
Queria ser menino outra vez, subir às árvores, rasgar os joelhos,
acreditar que a vida era só aquilo: o sol, o riso, o vento no rosto!

Mas não! Agora sou um adulto que pensa demais e sente de menos!
Sou um fantasma com nome e cartão de cidadão!
Sou um homem que se esqueceu de como se vive sem calcular os próprios passos!

Mas... e se... e se nada disso importar?
E se o segredo for apenas estar aqui?
Respirar fundo, abrir os olhos, sentir o frio, aceitar o caos?

Sim! Sim!—Talvez a felicidade seja aceitar!
Aceitar que nunca serei tudo, mas que sou alguma coisa!
Que cada manhã que nasce é um pequeno milagre!
Que há sempre um café quente esperando por mim na próxima esquina!
Que posso rir, chorar, gritar, tropeçar, levantar e seguir!

Sim! Sim! Sim!
Vou viver! Vou viver de peito aberto!
Vou existir mesmo sem entender como!
Vou lançar-me ao mundo como um barco sem mapa,
e que o mar me leve onde quiser!

E se um dia me perguntarem o que foi a vida,
responderei com um sorriso,
com um gesto amplo e cheio de vento nos braços,
e direi apenas: \"Foi isto!\"