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Rafael Marinho

Eu te óleo quando o coração se enferruja

Dia 2986 da quarentena e começo a ficar grilado com esse nome.
Eu jurava que era porque ia durar só 40 dias, mas \"sabe de nada inocente\".
Teve também a teoria de que quem inventou isso foi a Karen, então nada mais justo que homenagear ela.
Mas isso também caiu por terra.
Porque eu enfim descobri o motivo de o nome ser carentena: é porque a gente se sente carente.
Afinal, passam-se os meses desde o último abraço.
O isolamento enferruja as dobradiças do coração. E eu te óleo, te óleo e te óleo, só assim pra funcionar melhor.
Chego até a acariciar o celular, desejando que o meu carinho se teletransporte para a sua casa.
E, nessa hora, meu sufoco é adiado pra dois mil e vinte nunca.
Pois cada videoconferência contigo é um ar puro inundando os pulmões.
É um sorriso espumando no rosto.
É um sonho em 3D sobre fim da carência, da careta e da carentena.
E fica em mim a ansiedade da próxima ligação.
Em que vou perguntar como foi seu dia e você vai falar dele com a animação de quem anuncia a vacina do covid-19.
Por favor, continue assim.
Porque, quando a rotina se desmoronou, fui obrigado a pensar em quem realmente importa pra mim.
E meu pensamento encontrou você.
Nunca esqueça que o dia em que vamos nos tocar sem medo virá.
Fortaleça como nunca antes sua imunidade, sua humanidade e sua espiritualidade.
E seja lá o motivo do nome quarentena, não precisaremos mais ficar longe.
É verdade que estamos respirando o momento mais escuro da noite. Mas esse também é aquele que logo antecede o amanhecer.
E quando o sol nascer, ele vai encontrar a gente em um abraço tão forte que ficará difícil dizer onde começa um e onde termina o outro.
Sei que sempre é a gente que bate palma pro sol. Mas, nesse momento, é o sol que vai nos aplaudir.