Venho de muito longe
de tão longe que já não consigo evocar
o solo molhado do útero da minha mãe
De onde vim nada mais resta
do que um punhado de pó
que o tempo como tudo comeu
Estou de tal maneira distante
da minha entrada ao mundo
que nem mais ouço o som lagrimal
com o qual lá longe me inaugurei
Neste palco em que por hoje ando
estou passo a passo remoto do meu olhar
espantado pela luz primeira do primeiro dia
que a cada ano celebro sem me lembrar
Do mosaico quebradiço da memória
em algum lugar em que a palavra não alcança
deve estar ocultada aquela célula ancestral
onde guardei os sonhos cantados da minha mãe