é meia noite
as sombras tomam conta do corredor
as imagens na parede parecem olhar para quem as vê
as horas passam como se fossem lentas além do normal
sombras fantasmagóricas da noite obscura que por elas se faz
sem nada se molda a casa como um caixão vazio
assim é a casa sem morador
no canto da parede estreita do corredor
um homem repousa em um retrato
seu semblante é vazio
vestígio do já então passado
rugas do tempo
que já morreu
a casa tem cheiro de solidão
os galhos batem na janela como se protestassem
exigindo entrar
a mesa vazia não lembra a fartura do passado
talvez o barão que ali morava
levou consigo a vida da casa
que hoje repousa em escuridão
lhe falta vida, lhe falta luz
as tábuas do piso rangem como lamento sepulcral
o visitante caminha pelo corredor
procurando o quarto
na sala a cadeira balança sozinha
o visitante em seu reflexo olha para o sofá
e vê projetado no lugar uma imagem do vulto
que indefinido se faz
seria a sombra da noite
ou um espirito sem paz?
talvez seja o cansaço
talvez seja a vista
talvez seja delírio
resultado da ingênua ilusão
sombras dissimuladas como ladrões
na luz do candelabro
se fazia o único contraposto
em meio a escuridão
do temor das trevas do lugar
o alívio da sinfonia
do badalar do relógio
que parecia a única coisa viva
dentro da mortuária mansão