José Silva

Victus Iterum

Eis-me aqui novamente, derrotado.

Que mal fiz eu a todos os deuses?

Carrego sobre os ombros um castigo que desconheço,

Um fardo de pecados cujo nome nunca me foi revelado,

Mas cujos efeitos conheço de cor.

 

Nunca venci. Em toda a minha existência,

Somente derrotas foram minhas companheiras,

Somente fracassos embalaram meus dias.

Desisti de tudo – não por escolha, mas por cansaço.

Não tenho glórias, nem júbilos; apenas ecos de derrotas.

 

Ó Deus, creio que perdi minha fé.

Não creio mais na vitória,

Nem na promessa de conquistas futuras.

Minha alma, outrora inquieta, está exaurida.

Não resta uma gota de esperança em mim.

 

Enquanto os que conheço erguem-se e conquistam o mundo,

Eu, que tanto o desejei, estou aqui,

Derrotado, como sempre estive,

Vendo a vida passar como um estranho à festa da existência.

 

Que blasfêmia cometi, ó Deus?

Que templo ousei profanar para ser punido assim?

Não tenho dinheiro, não tenho amor,

Não tenho sequer um vislumbre de futuro.

 

Sonhei em conquistar o mundo,

Mas fui eu quem, no final, foi conquistado.

Não entendo os golpes incessantes,

As frustrações multiplicadas,

As lágrimas que queimam como brasas.

 

Eis-me aqui, à janela do meu quarto,

Como estive há cinco anos,

E como estarei, talvez, daqui a outros cinco,

Sempre olhando para o abismo do que poderia ter sido.

 

Acendo um cigarro, e na fumaça turva

Vejo meus sonhos perdidos,

Os castelos que ergui e que o vento levou,

As esperanças que outrora ardiam e agora não passam de cinzas.

 

Eis-me aqui, derrotado,

Chorando lágrimas de sangue,

Sangue de uma dor que me consome

E que nunca cessa.

 

Ó Deus, que crime cometi?

Não há resposta, nunca há resposta.

Só o silêncio – doce, mas perverso –

Que pesa sobre a minha alma como uma sombra eterna.

 

Queria, por uma vez, apenas uma vez,

Ser um campeão, vencer.

Queria ter sido como os deuses que me cercam,

Senhores do seu destino, donos do seu próprio céu.

E eu, este pobre diabo,

Como poderia controlar meu caminho?

 

Se pudesse, teria aquela dama em meus braços,

Teria moedas nos bolsos,

Teria o mundo aos meus pés.

Mas tudo isso não passa de um sonho desfeito,

Uma quimera que nunca existiu.

 

E assim, mais uma vez, fui derrotado.