No parquinho, a gente passava o dia inteiro brincando.
Lembro como você ficava brava comigo, te irritando.
No “quem piscava primeiro, perde”, eu me esforçava só pra te admirar.
Já no pega-pega, eu quase nem tentava, só pra sentir você me tocar.
Da terra ao céu, eu pulava pra você, na amarelinha,
E deixava você ganhar em todas, só pra te ver feliz no pega-varetinha.
Lembro de não saber se ficava bravo ou triste quando minha mãe me chamava,
Mas depois de meia hora eu já estava mais calmo, já que ela só se preocupava, me amava
Mas eu ficava muito indignado dela me distanciar do que eu gostava tanto.
Era como se, em casa, eu perdesse meu encanto.
Pelo menos, no dia seguinte, a gente se via de novo.
Lembro de sempre, antes de sair, tomava uma xícara de café com leite e comia um ovo.
Que nem a xícara no esconde-esconde, eu me fazia,
Pra você se achar a melhor, a maior, a pessoa que mais merecia.
No cabo de guerra, eu ganhava só pra te ver de mais perto.
No jogo da velha, eu ganhava sempre, mesmo sem nem tentar, eu era o mais esperto.
E de novo minha mãe me chamava, mas no dia seguinte algo seria diferente.
Toda manhã, sua mãe colocava sertanejo no rádio, eu já sabia, estava experiente.
Mas naquela manhã não tocou, e na sua casa havia uma placa escrito \"Vende-se\".
Lá na frente, na rua, um caminhão enorme e o carro não estava na garagem.
Eu, como era criança, acreditei fielmente que você só estava de viagem.
Mas, alguns anos depois, aprendi que naquele momento tudo na vida tem hora de passagem.