Sezar Kosta

O AMOR QUE NOS MOLDA

O amor chega,

como o vento que, ao toque da terra,

se transforma em tempestade.

Antes dele, a vida era um fio finito,

uma linha reta, sem cor, sem som.

Era o peso da lógica,

da razão que nos prende à terra.

Mas quando o amor floresce,

o horizonte curva-se,

e a alma dança sem saber o compasso,

sem mapa, sem fronteiras.

 

Ele chega suave,

como a brisa leve,

e, em um suspiro, já nos consome.

Nos olhos de quem amamos,

enxergamos o mundo inteiro,

e o que antes parecia distante,

agora pulsa em nossos peitos.

O amor é fogo que queima,

mas também o alívio da brisa que vem ao fim da tormenta.

 

Mas, ah,

não se engane,

o amor não é sempre abrigo.

Ele tem espinhos,

que ferem sem querer.

A saudade arranha,

os desentendimentos ferem,

mas, mesmo na dor,

há beleza oculta.

No perder-se de si,

encontramos, paradoxalmente,

quem somos.

 

Às vezes, o amor é fúria,

como um mar revolto que apaga as margens.

Em outras, é silêncio,

o espaço entre os gestos,

onde palavras são desnecessárias.

O amor é esse espelho

que reflete, não só o que somos,

mas o que podemos ser,

quando aceitamos a incerteza

como nossa companheira.

 

E, no fim,

ao olhar para trás,

vemos que o amor não é fim,

mas a linha onde tudo começa e termina.

É o instante em que nos tornamos infinitos,

quando as palavras cessam

e o silêncio fala mais alto que qualquer grito.

 

Ele, o amor,

não explica,

mas revela-nos,

e, em sua plenitude,

nos molda.