Flavio Eduardo Palhari

quarto escuro

 

 

a solidão é um imenso quarto escuro

com uma cama feita pra desilusão

travesseiros de duras penas de agonia

fantasias que se perdem entre um cobertor

 

a solidão é um frio quarto escuro

na cabeceira um criado mudo de reclamações

no guarda roupas não existe uma Nárnia

a alma é um tapete velho que acumula a dor

 

tanta preguiça que não deixa o sol entrar

a cada espreguiçar de um desejo só

magoa que mancha o branco do lençol

escorre pelo piso e se embrulha entre tanto pó

 

as cortinas que se fecham para o mundo

esconde essa janela em meio a parede

e a porta entre chaves trancam a tristeza

de uma tal maneira que remete a sede

 

bebendo esse escuro em silencio

perdido observando o teto sufocar

cada gesto preso em um corpo imóvel

querendo apenas por um tempo respirar

 

um novo ar

um novo ar

 

(Flavio Eduardo Palhari)