Sezar Kosta

A CHAMA ADORMECIDA

Sento-me à beira do meu ser,

Onde o branco da página é um campo sem semente,

Como o vento, suspenso, esperando o grão que não caiu.

O silêncio se estende, espesso como névoa,

Pesa no ar, tornando o espaço ainda mais vazio.

Antes, as palavras flutuavam, leves como folhas no vento,

Agora, são pedras caídas no abismo,

Um abismo que não me deixa esquecer

O medo pulsante, como um eco que não silencia.

 

Cada ideia é um labirinto,

Cuja saída nunca parece próxima,

E minha mão, que antes dançava no papel,

Agora hesita, aterrorizada, como se o mundo fosse desmoronar.

Olho para o céu e vejo as nuvens, imperturbáveis,

Elas não se importam com o turbilhão que me devora,

Elas seguem, em sua própria dança,

Inconstantes, mas sempre presentes,

Com uma paz que me escapa.

 

Mas, entre o vazio,

Surge uma palavra, brilhando no escuro,

Tímida, mas firme,

Uma chama que ainda se acende,

A despeito da escuridão.

Não é o fim, penso.

A esperança ainda mora aqui,

Entre as sombras e o grito mudo do silêncio.

 

A ansiedade, que antes me aprisionava,

Agora se revela como espelho,

Refletindo o medo que, por tanto tempo, guardei.

Mas ao olhar as nuvens, compreendo:

Elas também esperam.

Elas também se transformam,

Até que o sol a toque, e a chuva,

E tudo seja renovado.

 

Assim, em meio ao silêncio,

Com as mãos que ainda tremem,

Eu sei: a inspiração não morreu,

Ela apenas dorme, esperando o momento certo,

Como eu, aguardando o instante que nos despertará.

Ainda há luz, ainda há caminho,

E a chama, em breve, se acenderá.