Sento-me à beira do meu ser,
Onde o branco da página é um campo sem semente,
Como o vento, suspenso, esperando o grão que não caiu.
O silêncio se estende, espesso como névoa,
Pesa no ar, tornando o espaço ainda mais vazio.
Antes, as palavras flutuavam, leves como folhas no vento,
Agora, são pedras caídas no abismo,
Um abismo que não me deixa esquecer
O medo pulsante, como um eco que não silencia.
Cada ideia é um labirinto,
Cuja saída nunca parece próxima,
E minha mão, que antes dançava no papel,
Agora hesita, aterrorizada, como se o mundo fosse desmoronar.
Olho para o céu e vejo as nuvens, imperturbáveis,
Elas não se importam com o turbilhão que me devora,
Elas seguem, em sua própria dança,
Inconstantes, mas sempre presentes,
Com uma paz que me escapa.
Mas, entre o vazio,
Surge uma palavra, brilhando no escuro,
Tímida, mas firme,
Uma chama que ainda se acende,
A despeito da escuridão.
Não é o fim, penso.
A esperança ainda mora aqui,
Entre as sombras e o grito mudo do silêncio.
A ansiedade, que antes me aprisionava,
Agora se revela como espelho,
Refletindo o medo que, por tanto tempo, guardei.
Mas ao olhar as nuvens, compreendo:
Elas também esperam.
Elas também se transformam,
Até que o sol a toque, e a chuva,
E tudo seja renovado.
Assim, em meio ao silêncio,
Com as mãos que ainda tremem,
Eu sei: a inspiração não morreu,
Ela apenas dorme, esperando o momento certo,
Como eu, aguardando o instante que nos despertará.
Ainda há luz, ainda há caminho,
E a chama, em breve, se acenderá.