Cada dia se arrasta como um rio sombrio, e eu, náufrago de mim mesmo, escrevo palavras que se perdem no vazio. O mundo, outrora cheio de promessas, hoje me devolve um reflexo turvo, onde famílias desmoronam como castelos de areia ao vento cruel.
O amor, outrora chama viva, agora é apenas uma brasa esquecida, apagando-se lentamente no frio de corações endurecidos. E eu, espectador de tantas desgraças, carrego nos olhos a dor de ver a humanidade tropeçando em sua própria sombra.
Perdoe-me, mãe, por ser assim, por deixar transparecer minha inquietude, minha alma despida diante de tanto caos. As batalhas de rimas e poemas me fizeram assim, moldaram-me em palavras afiadas, em versos que sangram verdades que ninguém quer ouvir. Talvez eu carregue em mim mais do que deveria, ou talvez o peso do mundo tenha se entranhado no meu ser.
Este mundo, tão imundo, parece uma ferida aberta, sangrando egoísmo e indiferença. Caminho entre escombros de sonhos desfeitos, buscando um vislumbre de luz, mas encontro apenas o eco de gritos sufocados.
Ainda assim, a poesia escorre de mim como uma lágrima teimosa, porque talvez, no fundo desse abismo, o escrever seja meu último refúgio, meu grito silencioso contra a escuridão que insiste em me cercar.