À noite, quando todas as estrelas amigas
Saem ao meu encontro em seus trajes de viuvez
E as nuvens, inimigas do calor, correm a derramar lágrimas.
Sim, deitam, todas elas, a chorar e a prantear
Rios da mais nobre nascente, aguaceiro como de fontes nivais.
E clamam, e gritam, e berram porque o sol já não é mais.
Aconteceu dele ir tirar férias no Himalaia?
Aposentou-se depois de anos de serviço?
Abandonou o posto por covardia?
Mudou-se para a galáxia vizinha?
Não! Mas dorme.
Em seu leito de morte, cercado de sombras e pavor, ele dorme.
Em trevas, veio a esse mundo.
Em trevas, despede-se dele.
Trabalhou só o dia todo
E não houve ninguém que lhe estendesse a mão.
Não conheceu amor, nem beijo de boa noite.
Tampouco reclamação ouviu-se de sua boca.
Nem seu destino foi, por ele, amaldiçoado.
À noite, quando dona lua, cercada por estrelas,
E, com estas, reunida e de mãos dadas,
Põe-se a entoar a mais remota elegia,
E seu canto coral logo se abate à terra,
Aos céus e ao inferno, então, tudo o mais se esvai.
E canta: \"Vieste sozinho, assim, haverás de ir\".
E me lembra que, no fim, tudo haverei de perder.
Sim, no fim desse mesmo dia,
Não importa o quê, tudo perderei.
Mas eis o sol a erguer-se da sepultura.
Uma vez mais, ele se levanta, deixando para trás
As cinzas em seu ataúde. Ergue-se para construir, sozinho,
Tudo de novo pois que tudo perdera no dia anterior.