Antes de iniciar, gostaria de contextualizar que esse meu poema foi feito a partir de uma psicografia da minha falecida tia, que partiu em 2017 por conta do suicídio. Recebi essa psicografia hoje e, na carta, ela pedia para orientar as pessoas ao meu redor que possam sofrer com \"o abuso na infância e suas consequências na saúde mental\". Se você conhece alguém ou se identificou com o texto na parte do abuso, procure ajuda, seja de um amigo, um familiar, mas, principalmente, ajuda psiquiátrica. Como o poema apresenta uma temática que volta em torno do suicídio, optei por colocar o texto para maiores de 18 anos. Obrigado por ler o contexto. Segue o poema:
No lampejo suave de uma noite serena,
Surge o afago doce de quem te quer bem:
“Cuida de ti, Arthurzinho, cuida da tua mente,
Não deixes os medos amargarem teus sonhos,
Nem as sombras invadirem a luz dos teus estudos.
Pede ajuda, criança de olhos curiosos,
À mãe que te vela, à tia que te guia,
Pois na força de dois corações unidos
Teus passos encontram firmeza,
Teu peito repousa em segurança.\"
Eis que o vento sopra segredos guardados
No íntimo das lembranças de cada infância:
Há quem se cale frente ao toque sombrio,
Há quem se confunda no riso disfarçado,
Há corações tão meigos feridos por abusos.
Crescem dores em silêncios de quarto escuro,
Sementes de tristeza brotando sem porquê,
Dão origem a muros erguidos na alma,
E as mãos se perdem em cortes,
Em culpas que pesam, em distâncias frias.
Mas, há na brisa um apelo de cuidado:
“Não ignores o choro da criança indefesa,
Nem tapes os ouvidos ao relato que choca;
É dever de todos proteger o broto,
Para que a flor não se feche,
Para que a vida não se apague.
É preciso mais que alimento e um teto,
É preciso amparo, carinho e atenção,
Olhares atentos a sinais miúdos,
Mãos que afagam e questionam,
Bocas que falem a verdade e escutem o medo.
Pois a ferida deixada pelo abuso
Pode calar a alegria de quem cresce,
Entre lágrimas e medos não curados.
Enfim, surgem pensamentos de morte,
Como ecos de uma infância sem lume.
Por isso, meus versos sopram esperança:
Procura a luz, confia no amor,
Pede colo a quem te quer bem,
Deixa que a vida flua em plenitude,
E que a dor, quando surgir, encontre braços para acolher.
No canto invisível da fé que tudo assiste,
Minha voz te alcança em consolo e carinho:
Que teu sorriso renasça sempre intacto,
Que os ventos do mundo não te derrubem,
E que teu coração pulse livre, em paz.
Assim, te deixo o abraço que atravessa o tempo,
Marcado pelo zelo e o desejo de paz:
De Karla, tia, amiga, guardiã de sorrisos,
Que te vê em sonhos e te guia na estrada,
Sussurrando segredos de amor e cuidado.”