joaquim cesario de mello

NO AGITADO MAR DOS PENSAMENTOS

 

Por que penso o que penso

eu que penso que penso tantas coisas?

Mas quando penso sobre o que penso

penso que penso sempre o que sempre penso

 

Qual foi a última vez que pensei

um pensamento para chamar de meu

um pensamento que fosse um pensamento novo

um pensamento que jamais pensei nele antes?

 

Tenho pensamentos

que nem aos meus pensamentos revelo

Tenho pensamentos caducos

outros inusuais aos pensamentos dos outros

pensamentos ferrugentos e desusados

pensamentos masculinos, femininos e ambidestros

inclusive tenho pensamentos importados

introduzidos desde ante do final do século passado

 

Tenho pensamentos para quase todo gosto

alguns picantes, salgados, metálicos

outros que de tão amargos têm sabor de vinagre

mas também existem pensamentos adocicados

que sorriem em minha mente quando sonho acordado

 

Amiúde desconfio de alguns pensamentos

quando me vejo pensando como foi que eles

chegaram ao interior barulhento de mim

Todavia descubro pensamentos insubordinados

indomáveis que nem cavalos selvagens

que bagunçam o armário do fundo esquerdo

que é lá onde guardo o pouco das minhas certezas

 

Pensamentos são células neurais conversando

em um incessante bate-papo que chego

até mesmo a ficar muitas vezes cansado

 

Entretanto quando meus pensamentos viram palavras

vencendo a barreira do ordinário e do trivial

corro em direção à ponta delicada dos dedos

e aguardo ver se eles se tonam poemas