Já parei de tentar me entender
me cansei de pagar pra ver
quem eu sou e quem eu nunca serei
quem eu fui e quem eu poderei ser
já parei de erguer minhas fronteiras
já me cansei das minhas bandeiras
de me sentir como um refugiado
um pobre exilado sem eira nem beira
já fiquei tanto tempo trancado
me sabotando por todos os lados
entre o meu tempo e o espaço
vendo o mundo aqui debaixo
já parei de cavar trincheiras
já me cansei dessas minhas olheiras
nem sempre sou eu quem faço
cada estardalhaço em minha vida inteira
não é brincadeira cada pedra em meu sapato
cada guerra que eu traço
cada mapa demarcado
minhas tempestades em copos d’água às vezes não matam minha sede
minhas tempestades em copos d’água nem sempre me afogam
meus olhos verdes nem sempre vencem a escuridão das paredes
sei que milhares de vezes quis ver o meu sangue
estranhos prazeres
(Flavio Eduardo Palhari )