joaquim cesario de mello

GARIMPEIRO DO TEMPO

 

Na peneira do tempo

sobram frutos apodrecidos

das mangueiras da infância

a adubar o solo do menino

que hoje pisa como se fosse adulto

 

Do chão batido que me restou

extraio dos escombros deixados pelos dias

que os anos há muitos anos levou

artefatos de uma vida passada

enterrados um pouco abaixo de onde estou

 

No alagado ambíguo e impreciso da memória

argilas fluem soltas pelo escoar corrente das horas

e neste lodaçal bateio frenético como garimpeiro

pequenas pepitas e grãos de lembranças

que valem mais do que qualquer diamante ou ouro

 

No vasto território da minha desgastada memória

vagueio que nem fantasma de uma casa abandonada

em uma rua que tem o mesmo nome que sempre teve

em um endereço que continua sendo a morada do ontem

onde brinco sem perceber o mastigar vertiginoso do tempo