Na peneira do tempo
sobram frutos apodrecidos
das mangueiras da infância
a adubar o solo do menino
que hoje pisa como se fosse adulto
Do chão batido que me restou
extraio dos escombros deixados pelos dias
que os anos há muitos anos levou
artefatos de uma vida passada
enterrados um pouco abaixo de onde estou
No alagado ambíguo e impreciso da memória
argilas fluem soltas pelo escoar corrente das horas
e neste lodaçal bateio frenético como garimpeiro
pequenas pepitas e grãos de lembranças
que valem mais do que qualquer diamante ou ouro
No vasto território da minha desgastada memória
vagueio que nem fantasma de uma casa abandonada
em uma rua que tem o mesmo nome que sempre teve
em um endereço que continua sendo a morada do ontem
onde brinco sem perceber o mastigar vertiginoso do tempo