Davi G.

Do outro lado

O olhar desta criança

Puramente de esperança

Se contagia por um medo

De assumir a liderança

Sem histórias bonitas, de Julieta e Romeu

Esse anseio que a persegue

Essa noite, esse breu

Não cabe a ela, a segurança

De curar o que morreu

 

Num sopro de escolha, o abismo à espreita,

Um mundo que chama, mas não respeita

Há cinzas no ar, promessas sem cor

O peso de um vício

A roubar o seu valor

 

Pueril infância, sem ego, sem ganância

De alguém que sabe que venceu

Todo desprezo e discordância

Que cada um lhe prometeu

Músculos firmes, curvas e tabaco,

Não blindam a alma, nem curam o buraco

Essa criança, tão frágil, sou eu

Refletida no tempo:

Espelho, espelho meu

 

- D. Göss