Arthur Magalhães

Nossa História

Teu nome me ofuscou
No instante em que te avistei,
Sentada ao fundo da sala,
Kindle em mãos,
Enquanto eu tentava adivinhar
O que desenhava teu olhar.

Descobri, ansioso,
Teu nome completo
Na lista de chamada —
Soou segredo raro.
Procurei teus rastros
Nas redes:
Até encontrar tua foto.
Ali estavas tu, radiante,
Vestido listrado de azul,
Sorriso inebriante,
A singeleza de uma sala do interior
Envolvendo tua leveza.

Segui-te,
Senti-me audacioso.
E, num gesto singelo,
Aceitaste meu convite,
Retribuindo o “seguir”.
Num gesto tão simples,
Meu coração se encheu
De alegria e esperança.

Ainda tímido,
Nos corredores da faculdade
Eu mal ousava me aproximar,
Mas ansiava quebrar
Aquele silêncio.

Certo dia, um amigo
Confessou se interessar por ti;
O ciúme me devorou
De forma inevitável.
Não suportava imaginar
Outro acolhendo teu riso.
Logo soube que era
Apenas amizade,
E respirei aliviado.

Dei o primeiro passo,
Chamei-te no WhatsApp.
Dia após dia,
Nossa timidez adormecia.
Numa noite qualquer,
Caminhavas pelo condomínio,
Te deitaste num banco
Sob a sombra do coqueiro,
E ligaste pra mim.
Tua voz me chamou.
Conversamos sobre a vida,
E perguntei, sem vergonha, 
Sobre quem te despertava atenção.
Hesitaste, sem querer revelar,
Mas eu intuía ser eu.
Disfarcei, sorrindo,
E rimos juntos,
Nos unindo
Cada vez mais.

Chegou a calourada:
A festa onde tudo mudou.
Onde o nosso primeiro beijo
Estava escrito.
Eu, ansioso e um pouco ébrio,
Sentia o coração disparar
Sempre que nossos olhares
Se encontravam.

Fugimos da multidão,
Que se perdia em copos.
Hesitante,
Puxei-te de leve,
Mas tu me afastaste,
Procurando um canto discreto.
Fomos para perto
Do banheiro feminino.
Ali,
Uni meus lábios aos teus,
Nosso primeiro beijo:
Um encaixe perfeito
Que fez-me crer no destino,
Selando nossa história.

Ao fim da noite,
Quando você tinha
De voltar para casa,
Te acompanhei,
Pois não fazia sentido
Continuar na festa sem ti.
Envergonhado,
Peguei carona com tua tia,
Mas,
Feliz como criança
Que encontra um sonho.

Desse dia em diante,
Nosso relacionamento floresceu:
Vivemos tardes intensas,
Encontros quentes,
Promessas de amor
Que pareciam infinitas.

Mas o destino mudou o rumo:
Precisei partir,
E a saudade tomou conta.
Ainda assim,
Nossas mensagens e ligações
Sustentavam a esperança
De que nada nos separaria.

Até que, em 19 de dezembro,
Com teus lábios tremendo
E uma enorme incerteza,
Tua voz vacilou ao telefone:
“Não fica bravo…”
E meu coração despencou.
Eu soube naquele segundo
Que era o fim.
O mundo fugiu de mim.

Hoje,
O torpor se dissipa,
E cada lembrança dói
Como se fosse ontem.
Nada posso alterar,
A não ser guardar
Em versos e memórias
Aquilo que fomos.

E assim encerro,
Com o peito agradecido
Pelo que vivemos,
E o vazio inevitável
Do que deixamos de ser.