Por tempos culpei, no silêncio guardado,
O peso da dor que me foi legado.
Na figura materna, busquei a razão,
Por que o amor, às vezes, fere o coração?
Era fácil apontar, tão claro, tão rente,
A culpa dela parecia evidente.
Mas agora enxergo, em reflexo sereno,
Que ela, como eu, é parte do enredo terreno.
Recebeu da vida tão pouco a oferecer,
Fez o que pôde, sem muito saber.
E eu, na minha dor, não via o sentido,
Que somos espelhos, fragmentos feridos.
Sei que os danos não somem, não se desfazem,
Mas o olhar muda e as feridas se apaziguam.
Pois perdoar a ela é também me salvar,
É abrir espaço para a alma respirar.
Então deixo que o tempo me ensine a cura,
Na força do perdão, a luz se mistura.
E assim, como o rio que ao mar vai ceder,
Perdoo a mim mesma, para enfim renascer.