O NINHO DO DRAGÃO
enterrei meus heróis muito cedo vendendo minha paz cedo demais
comecei a brincar com meu medo
um brinquedo só nunca satisfaz ...
tanto faz sentir à vontade que há tempos me persegue e ainda sinto
ainda ouço mais meus instintos do que foi a minha fé
por mais que o silencio roube meus gritos insisto em gritar
se não consigo me encontrar e nem encontrar a direção
ando em terras tão estranhas e carrego nas entranhas o pão que o diabo amassou
se sou meu amigo ou inimigo ainda me visto do medo de viver
e se me falta a coragem quem sou?
sou oásis, sou deserto, o homem sombra
um martelo, um cristal, o homem bomba
neve ou névoa, sou caverna ou catedral
sou o céu, sou inferno
quaresma e carnaval
sinto e sofro ou sonho e existo
sou minha carne, um imortal
aperto o meu coração com minhas próprias mãos
e a solidão é só um dragão que fez seu ninho em meu peito
sou trovão e chuva fina
sou um livro
ando em círculos tentando me encontrar
ando em círculos tentando me alcançar
ando em círculos tentando me enxergar
ando em círculos por não saber voltar
sou anjo e sou demônio
fraqueza e poder
sou um kamikaze com medo de morrer
sou palhoça e casa mata
fortaleza, burrice e saber
sou mar e sou âncora
sou navio e assombração
sou Às vezes o Deus do Sótão
sou às vezes o diabo do porão
sou o homem tocha, sou o home de gelo
sou o homem pássaro e sou meu pesadelo
minha redenção, sou o homem elástico
sou o homem aranha e sou o homem morcego
sou meu ponto de ignição e a insônia de um furacão
ando em círculos sem querer me encontrar
ando em círculos tentando me apunhalar
ando em círculos querendo me sabotar
ando em círculos tentando não voltar
eu sou libra e injustiça na verdade o senhor destino
um membro da liga no poço de lazaro
só um ser bizarro com a ferida aberta
eu sou o que nunca cicatriza
o filho, o bastardo procurando Deus em meu sótão
me escondendo no porão com o Diabo
Flávio Eduardo Palhari