joaquim cesario de mello

VOU DEIXAR AQUELA VIDA DE LADO

 

Vou deixar aquela vida de lado

o corre-corre do passo acelerado

o sentimento de estar sempre atrasado

a insensatez dos afetos descuidados

o respirar afobado dos afogados

os desvaneios frenéticos dos angustiados

o laborar macambúzio dos abandonados

e a sofreguidão desenfreada dos entediados

 

Vou deixar aquela vida de lado

passar para o outro lado do lado de cá

andar assoviando e olhando os pássaros

sentindo a brisa abafada de um final de tarde

ouvindo o silêncio adormecido do céu

curtindo as sombras generosa das árvores

apalpando o sabor de cada oxigênio respirado

e provando o moer do tempo no interior da carne

 

Vou deixar aquela vida de lado

e levar dela algumas sobras no interior da memória