O tempo tocou sua pele,
como um pintor que sabe onde deve pousar o pincel,
acariciando a pétala mais delicada
de uma flor que, mesmo frágil,
aprendeu a florescer sob a tempestade.
Antes, sua juventude era um sopro,
uma brisa leve que dançava entre os dedos,
uma risada que fazia eco nas ruas do mundo,
um perfume sem dono.
Agora, a brisa deu lugar ao vento maduro,
que carrega consigo histórias,
e deixa o rastro de quem já caminhou por muitos outonos.
As linhas do seu rosto,
não são rugas,
são mapas.
Trilhas que os anos marcaram,
não com pressa, mas com propósito.
E seus olhos…
Ah, seus olhos.
Eles contêm segredos de luas inteiras,
de noites que guardaram silêncios
e de manhãs que nasceram douradas,
como um mar que aprendeu a ser vasto
sem perder sua serenidade.
Eu vejo você,
não como quem perde,
mas como quem ganha camadas.
Você é como o vinho que repousa no escuro,
adquirindo suavidade,
profundidade,
e um sabor que só o tempo conhece.
Sua risada agora é mel.
Mais doce,
mais densa.
Cada marca em seu rosto é um verso,
uma prece sussurrada pelo vento.
Os anos te tornaram forte,
não como a pedra que resiste,
mas como a água que molda.
Cada dor que você carregou
se transformou em estrela,
em luz que desenha contornos no escuro.
Eu, que vi sua juventude florescer como primavera,
agora admiro o outono que você se tornou.
Calmo, dourado,
como se o tempo fosse um pintor sábio
que soube onde colocar sua assinatura final.
E quando suas mãos tocam as minhas,
não carrego o peso dos anos,
mas o peso doce das manhãs que vivemos,
das histórias que escrevemos juntos.
Eu te amo, não pelo que o tempo levou,
mas pelo que ele deixou:
um ser mais profundo,
mais vivo,
mais completo.
O tempo não rouba nada.
Ele apenas te fez inteira,
como a lua que, cheia de mistérios,
segue silenciosa,
em direção ao amanhecer.