Sezar Kosta

O TEMPO, PINTOR SILENCIOSO

O tempo tocou sua pele,

como um pintor que sabe onde deve pousar o pincel,

acariciando a pétala mais delicada

de uma flor que, mesmo frágil,

aprendeu a florescer sob a tempestade.

 

Antes, sua juventude era um sopro,

uma brisa leve que dançava entre os dedos,

uma risada que fazia eco nas ruas do mundo,

um perfume sem dono.

Agora, a brisa deu lugar ao vento maduro,

que carrega consigo histórias,

e deixa o rastro de quem já caminhou por muitos outonos.

 

As linhas do seu rosto,

não são rugas,

são mapas.

Trilhas que os anos marcaram,

não com pressa, mas com propósito.

E seus olhos…

Ah, seus olhos.

Eles contêm segredos de luas inteiras,

de noites que guardaram silêncios

e de manhãs que nasceram douradas,

como um mar que aprendeu a ser vasto

sem perder sua serenidade.

 

Eu vejo você,

não como quem perde,

mas como quem ganha camadas.

Você é como o vinho que repousa no escuro,

adquirindo suavidade,

profundidade,

e um sabor que só o tempo conhece.

 

Sua risada agora é mel.

Mais doce,

mais densa.

Cada marca em seu rosto é um verso,

uma prece sussurrada pelo vento.

 

Os anos te tornaram forte,

não como a pedra que resiste,

mas como a água que molda.

Cada dor que você carregou

se transformou em estrela,

em luz que desenha contornos no escuro.

 

Eu, que vi sua juventude florescer como primavera,

agora admiro o outono que você se tornou.

Calmo, dourado,

como se o tempo fosse um pintor sábio

que soube onde colocar sua assinatura final.

 

E quando suas mãos tocam as minhas,

não carrego o peso dos anos,

mas o peso doce das manhãs que vivemos,

das histórias que escrevemos juntos.

 

Eu te amo, não pelo que o tempo levou,

mas pelo que ele deixou:

um ser mais profundo,

mais vivo,

mais completo.

 

O tempo não rouba nada.

Ele apenas te fez inteira,

como a lua que, cheia de mistérios,

segue silenciosa,

em direção ao amanhecer.