Numa manhã cinza, como o céu de outono,
meus pensamentos se dispersam em névoas,
como folhas secas que dançam ao vento,
um vácuo no peito, uma página em branco,
o silêncio grita entre as paredes do quarto.
O café esfria na mesa,
e o cheiro do pão aquecido
não consegue despertar minhas musas,
que se esconderam entre as sombras,
embarcando em ondas de dúvidas.
Olho pela janela,
vejo a vida lá fora,
gente apressada, sorrisos trocados,
mas aqui dentro, uma cortina de névoa,
meu coração anseia por palavras que não vêm.
Quantas vezes já escreveram sobre o sol,
as cores do amanhecer, o canto dos pássaros?
Mas hoje, tudo é sombra e eco,
as letras dançam uma valsa inexplicável,
escorrem como água entre meus dedos.
Busco no passado
momentos de Serenidade,
onde a inspiração fluía como um rio,
caminhos tomados nas madrugadas silenciosas,
mas agora, tudo é neblina e dúvida.
A vida parece um livro fechado,
cujas páginas não se abrem,
um mistério que não consigo decifrar,
frases que estão presas,
como pássaros enjaulados dentro de mim.
Olho para o céu,
vejo nuvens que se movem lentamente,
como minha mente,
perdida entre fragmentos de sonhos,
tentando encontrar sentido em cada instante.
As árvores no parque vibram,
as folhas sussurram segredos ao vento,
mas meu ouvido não capta;
é como se um ruído branco
silenciasse a beleza ao meu redor.
Ah, como eu gostaria de dançar com as palavras,
de deixá-las fluir como um rio caudaloso,
os versos se entrelaçando como raízes,
crescendo firmes, fortes, decididos,
mas aqui estou, parado, aguardando.
De onde vem a inspiração?
Porém sinto o chamado da semente,
que insiste em germinar em meio à secura,
o desejo de viver, de sentir,
silenciosamente implorando para ser escutado.
A brisa traz um aroma adocicado,
um lembrete de que tudo muda,
a sombra da angústia lentamente se dissipa,
e, quem sabe, o fio da criatividade
comece a se desenrolar de novo.
Então, levanto os olhos e respiro,
tento me conectar com o momento,
escrevo o que sinto, mesmo que vago,
e deixo que o vazio se preencha,
com a beleza do simples, do cotidiano.
E assim, aos poucos,
as palavras começam a tomar forma,
cada letra, uma chama,
cada verso, um passo,
na dança interminável da criação.
E no silêncio profundo,
encontro uma nova melodia,
poemas que nascem da incerteza,
como flores que florescem na pedra.
Tô sem inspiração, mas ainda estou aqui,
e há beleza em reconhecer
que a arte também vive no vazio,
que talvez, em algum lugar,
a inspiração esteja esperando por mim,
apenas se escondendo entre as nuvens,
pronta para brilhar novamente.
Anna Macedo