Catorze

Sob muros

\"Ajoelhe-se\", eu lhe ordenei.

Você obedeceu, diante da magnitude de minha majestade.

Os pilares tão brancos o cegaram,

os réus, tantos que não se enxergavam.

\"número um\", minha voz ecoou pelo salão.

Um homem levantou. Ouvi o alívio do seu coração.

\"inferno!\", ordenei. Então tal corpo entrou em chamas.

\"número dois\", prossegui. 

\"inferno!\", ordenei, e de novo a combustão.

Até que chegara seu momento.

Pude ver seu pensamento, era singelo.

Você morreu infeliz, tomado por si mesmo.

Então, você me disse: \"eu morri infeliz, 

tomado por mim mesmo. Eu

não fiz o que eu quis. 

Eu vivi a esmo. Eu pertenço

ao inferno.\", sua expressão esvaneceu.

Mas quem decidiria isso era eu.

Assisti à toda sua vida, linha por linha,

ano por ano, dia por dia.

Não tão mau para a morte,

não tão bom para a vida.

O céu não julgaria a corte,

o inferno te vomitaria.

\"Você é um homem puro\", disse.

Puramente asqueroso, do pior tipo.

Não havia lugar a qual pertencesse,

éden que subisse, abismo que descesse.

\"Ele viverá toda sua vida novamente\", eu bati o malhete.

\"mas\", interrompi aqueles que seguravam seu corpo,

prestes a lhe jogar de novo aos porcos,

e disse: \"cada detalhe se repetirá,

cada dor e cada amor, cada miséria

você vai viver, até que eu esteja morto.\"

E, como este final amargo, você sentiu o gosto

de novo e de novo, de não pertencer a um lugar,

esse lugar, aquele lugar,

ou qualquer outro.