joaquim cesario de mello

REM

 

No adiantar das horas noturnas

lá fora a vida lateja

enquanto aqui dentro durmo

 

Dormito no embalar do meu menino

e escuto vozes que já não existem mais

 

O que sabem os morcegos e as corujas

das minhas narrativas oníricas?

No interior habitado dos sonhos

essências solitárias não me assombram

e nenhum uivar de qualquer lobisomem

há de me acordar para o escuro do quarto

 

Por debaixo dos lençóis das quimeras

deuses me sussurram segredos

que nem a mim mesmo ouso confessar

 

No interregno do etéreo e do mundano

passeio entre paisagens misturadas

pelo liquidificador das lembranças

e o emulsificar urdido das fantasias

 

Discordo de Freud quando diz

que sonhar é a realização de coisas

que não fazemos na realidade

pois comigo é a realidade que me invade

em busca de efetuar em minha alma

o que não consegue fazer com a carne