No adiantar das horas noturnas
lá fora a vida lateja
enquanto aqui dentro durmo
Dormito no embalar do meu menino
e escuto vozes que já não existem mais
O que sabem os morcegos e as corujas
das minhas narrativas oníricas?
No interior habitado dos sonhos
essências solitárias não me assombram
e nenhum uivar de qualquer lobisomem
há de me acordar para o escuro do quarto
Por debaixo dos lençóis das quimeras
deuses me sussurram segredos
que nem a mim mesmo ouso confessar
No interregno do etéreo e do mundano
passeio entre paisagens misturadas
pelo liquidificador das lembranças
e o emulsificar urdido das fantasias
Discordo de Freud quando diz
que sonhar é a realização de coisas
que não fazemos na realidade
pois comigo é a realidade que me invade
em busca de efetuar em minha alma
o que não consegue fazer com a carne