Anna Gonçalves

Olhe

As areias escorrem entre meus dedos
quando deixo a palma da mão entre aberta,
Observo o fluxo suave em minha pele, 
deixando uma leve impressão do que passou.

A água, quando tento segurá-la
fechando a mão, apertando com força
o que não se pode conter,
ela escapa com mais pressa,
como se percebesse o erro
de quem quer reter o que é fluido,
o que não pertence a uma única forma.


A água, mais do que areia, ensina:
quanto mais tentamos controlar,
mais ela escorre,
e nos escapa das mãos.

Quando o vento toca o dente de leão,
e seus  fios branquinhos e leve se soltam
sem resistência alguma, fazendo seu papel
como um suspiro que se desfaz
ao encontro da liberdade.
Sem pressa, sem apego,
tudo se dissolve em leveza
quando não forçamos a permanência.

O amor, assim como a areia, a água e o vento,
é um jogo de soltar e deixar ir.
Tentamos segurá-lo com as mãos fechadas,
mas quanto mais apertamos, mais ele escapa,
como se não quisesse ser prisioneiro de nossa necessidade.
É na aceitação da sua liberdade que ele se mantém,
não pela força, mas pela entrega.

A beleza está no que não retemos,
no que não controlamos.
A vida, o amor, o vento, a água
tudo escorre entre os dedos
quando tentamos apreender o que é
essencialmente fluido.
O segredo está em aprender a deixar, a confiar,
a perceber que, no soltar,
tudo se refaz, e o que se vai
sempre encontra um novo caminho.