Charles Araújo

BOÊMIO

BOÊMIO

 

Sim... Sim... Sim...  

Lá estava ele, redimindo,  

Perdido na noite vadia,  

Entre o tilintar dos copos  

E as notas roucas de um samba-canção.  

 

Com um largo sorriso,  

Passos vacilantes,  

Rodopia entre os zumbidos do vento.  

Ao longe, piscam as luzes da currutela,  

Um chamado distante,  

Ou talvez só mais um pequeno delírio?  

 

A noite é cúmplice,  

Confidente das dores dissolvidas em álcool,  

Das promessas sussurradas ao acaso,  

E das risadas que escapam  

Como preces profanas.  

 

E mesmo sabendo que a aurora virá,  

Naquele momento, entre o pecado e o perdão,  

Ele é só um homem,  

Entre o sacramento e a penitência,  

Desafiando a vida  

Com mais uma dose em um copo sujo  

E a coragem embriagada  

De quem ainda acredit

a no amor que dói.

 

C.Araujo