Anna Gonçalves

Nascimento da Autonomia

Quem nunca se acostumou e encarou
o desmame da vida, que a gente ignora.
Quando o peito materno, abrigo a nos dar,
Nos envolve e nos acalma, sem deixar de amar.
O leite materno, quentinho e acolhedor,
                                  [nos sentimos seguros, extinto protetor]
se torna um alicerce em nosso mundo.
Sustenta o nosso ser frágil, nos embala com amor.


Nos braços, o colo era o nosso cantinho,
sem esforço, sem luta, só carinho, só abrigo.
A cada sucção, a confiança se firmava,
tudo era suave, tudo nos acalmava.

Mas o tempo vem, e o todo aconchego se vai,
o colo da mãe já não é mais o nosso cais.
O leite, doce e quente, já não é mais o sustento,
e a introdução alimentar nos ensina um novo movimento.
A liberdade chega, com escolhas a fazer,
aquele peito que acalma, já não podemos mais ter.
                                  [não tem mais pra onde correr]

Os primeiros passos, com medo e aflição,
se mistura com a pura curiosidade e empolgação.
E assim, caminhamos sozinhos, sem a mão da proteção.
A vida, assim, é um desmame constante,
passo a passo, ela se torna distante.
Mas há beleza no processo de crescer,
mesmo sem saber, somos feitos para aprender.

Quem nunca se acostumou e encarou,
a dor do novo, do estranho, do amor e da dor?
A vida sempre nos chama, com seus altos e baixos,
é a vida que ensina, com seus ritmos e passos...

O desmame não é apenas na infância, 
o desmame sempre é constante.
Vai de amores, companhias, vícios e família.
É o aprendizado de viver, de ser a nossa força.
E, embora a saudade seja um constante sol,
Aprendemos a andar, a correr, a crescer,
A viver sem o colo, mas com o amor de saber.