Sezar Kosta

O ANO NOVO E O RECOMEÇO

O tempo, esse escultor de catedrais invisíveis,

molda o silêncio em pedras de memória.

É um rio que nunca se cansa,

mas que nunca retorna à nascente.

 

Na meia-noite, o mundo suspira em uníssono,

como se o cosmos sussurrasse segredos

que o agora dissolve na espuma do instante.

 

O Ano Novo chega,

um viajante de passos etéreos,

com promessas que dormem em sementes

e silêncios que aguardam florescer.

 

O tempo não é carrasco,

é apenas um espelho que dança com a luz.

Ele nos dá asas para partir

e raízes para recomeçar.

 

Há perdas que ferem como ventos de inverno,

e ganhos que desabrocham como flores ao amanhecer.

Mas não há ganho sem perda,

nem perda sem o presságio de algo a nascer.

 

Somos folhas, sim, mas também somos o vento.

A cada ciclo que se desfaz,

o velho se transforma em pó

para que o novo brote,

como o eco da terra em direção ao sol.

 

Aceita, então, o que o tempo leva —

ele não rouba, apenas recria.

Celebra o que ficou,

mas também o que ainda não veio.

 

Pois há no mistério do amanhã

o brilho de estrelas adormecidas,

esperando para ser luz.

 

E quando o relógio calar sua última batida,

quando o calendário virar a página,

lembra-te:

não é o ano que começa,

é você — sempre você,

renascendo outra vez.