O tempo, esse escultor de catedrais invisíveis,
molda o silêncio em pedras de memória.
É um rio que nunca se cansa,
mas que nunca retorna à nascente.
Na meia-noite, o mundo suspira em uníssono,
como se o cosmos sussurrasse segredos
que o agora dissolve na espuma do instante.
O Ano Novo chega,
um viajante de passos etéreos,
com promessas que dormem em sementes
e silêncios que aguardam florescer.
O tempo não é carrasco,
é apenas um espelho que dança com a luz.
Ele nos dá asas para partir
e raízes para recomeçar.
Há perdas que ferem como ventos de inverno,
e ganhos que desabrocham como flores ao amanhecer.
Mas não há ganho sem perda,
nem perda sem o presságio de algo a nascer.
Somos folhas, sim, mas também somos o vento.
A cada ciclo que se desfaz,
o velho se transforma em pó
para que o novo brote,
como o eco da terra em direção ao sol.
Aceita, então, o que o tempo leva —
ele não rouba, apenas recria.
Celebra o que ficou,
mas também o que ainda não veio.
Pois há no mistério do amanhã
o brilho de estrelas adormecidas,
esperando para ser luz.
E quando o relógio calar sua última batida,
quando o calendário virar a página,
lembra-te:
não é o ano que começa,
é você — sempre você,
renascendo outra vez.