Carta para o Silêncio
Eu costumava não gostar de você
Silêncio, para mim, sempre foi sinônimo de solidão
Até que um dia, distante de casa e jantando sozinho
Comecei a pensar que ter momentos de silêncio são dádivas
Quando a noite vem, sinto sua companhia comigo ainda mais
Mas aí vem os grilos
E a torneira pingando na cozinha
E o bebê que chora distante
Começo a pensar que nunca estamos completamente sem barulho: O silêncio não é vazio
Você me dá espaço para ouvir, para pensar, para refletir
Mas sendo sincero: às vezes, você é barulhento demais
Quando não há nenhum barulho tarde da noite, você me enche com esse zumbido invisível
Me perturba com reflexões tão banais, que só por serem banais, me perturbam
Mesmo assim, não quero que você vá
Você é como aquele amigo que as vezes irrita, mas que a gente ama
Companheiro, mesmos nos dias em que não temos tanto papo
Então, Silêncio, fique por perto
Mas aprenda a sussurrar menos alto
Com carinho, um ouvinte do que você não disse