um de nós dois vai acordar sem motivo,
olhar o vazio onde antes era abrigo,
o travesseiro ainda marcado, tão vivo,
mas frio, calado, esquecido do perigo.
um de nós dois vai falar sozinho,
com as sombras que dançam na parede,
vai buscar nos ecos, no velho caminho,
uma resposta que o tempo não cede.
um de nós dois vai se sentar na cadeira
onde o outro costumava estar,
e a xícara vazia, morta, certeira,
será o fantasma da lembrança amar.
um de nós dois vai carregar o luto
não só na alma, mas na casa inteira,
cada porta fechada, um minuto,
cada objeto esquecido, uma tristeza.
um de nós dois vai ser só memória,
respirando o ar que já não faz sentido,
vai colher da vida uma última história,
e o resto será apenas um grito contrito.
um de nós dois, enfim, vai ficar,
preso entre o ontem e o nunca mais,
com as mãos vazias, sem nada a tocar,
chorando a dor dos laços banais.
17 dez 2024 (12:29)