Flavio Eduardo Palhari

DOM

DOM

 

sei que trago comigo às vezes o medo de quem sou

de como eu penso

do que desejo

do meu domínio em causar dor

sei que guardo em mim um caos avassalador

aprendi a dosar

manipular

a puxar as coleiras com um certo louvor

aprendi a gostar da mascara

do suor com cheiro de medo e anseio

na pele de quem emudeço os gemidos

calo os gritos

contenho a carne a flor da pele em arrepios

sei que trago comigo às vezes a alegria de quem eu sou

crucificando por horas

nó após nó ao som de um tapa

mais um tapa

outro tapa amenizado por beijos

caricias no pelo

no deslizar dos dedos

meus olhos sedentos se alimentam da alma

do olhar da escrava

do estalar da chibata

das escuras paredes que em uma cela se acaba

e faz a vida toda recomeçar ....