Saudade é um cheiro que se esconde no vento,
um perfume que se prende à memória da pele,
é o calor de um abraço que não termina,
mesmo quando os braços se dissolvem no vazio.
No início, ela chega como tempestade:
um trovão mudo ecoando no peito,
um rio que transborda sem pedir licença,
e afoga os dias em lembranças salgadas.
É o silêncio da mesa com um lugar vazio,
o tilintar de uma chave que não gira mais na fechadura,
o som de passos que o tempo levou,
mas que ainda ecoam no chão da mente.
Mas a saudade não é só ausência,
não é só o escuro que o passado projeta.
Ela é também semente,
um grão enterrado no campo da alma,
que brota entre lágrimas e floresce em memória.
A cada lágrima que cai,
ela cresce, transforma,
torna-se raiz que sustenta o que somos.
Lembro-me do cheiro do café que você fazia,
da gargalhada que dançava na sala,
da sua voz, que era vento e refúgio.
E percebo que você não foi embora por completo.
Você vive no espaço entre a saudade e o amor,
na curva dos meus sorrisos distraídos,
no jeito que seguro uma xícara,
no modo como olho o pôr do sol.
Saudade, percebo agora, não é ferida que sangra,
é cicatriz que brilha sob a luz do tempo.
É o eco do amor que não morre,
que transborda a ausência e se faz presente.
É o reflexo de quem fomos,
o abraço de quem ainda somos,
a promessa de que o que é eterno jamais se perde.
E assim, aceito a saudade como o que ela é:
não um vazio, mas uma plenitude invertida,
não um adeus, mas um \"até sempre\".
Ela é a prova de que amei,
de que fui amado,
e de que o amor é um pássaro que nunca deixa de voar.