Sezar Kosta

SAUDADE: O AMOR QUE PERMANECE

Saudade é um cheiro que se esconde no vento,

um perfume que se prende à memória da pele,

é o calor de um abraço que não termina,

mesmo quando os braços se dissolvem no vazio.

 

No início, ela chega como tempestade:

um trovão mudo ecoando no peito,

um rio que transborda sem pedir licença,

e afoga os dias em lembranças salgadas.

É o silêncio da mesa com um lugar vazio,

o tilintar de uma chave que não gira mais na fechadura,

o som de passos que o tempo levou,

mas que ainda ecoam no chão da mente.

 

Mas a saudade não é só ausência,

não é só o escuro que o passado projeta.

Ela é também semente,

um grão enterrado no campo da alma,

que brota entre lágrimas e floresce em memória.

A cada lágrima que cai,

ela cresce, transforma,

torna-se raiz que sustenta o que somos.

 

Lembro-me do cheiro do café que você fazia,

da gargalhada que dançava na sala,

da sua voz, que era vento e refúgio.

E percebo que você não foi embora por completo.

Você vive no espaço entre a saudade e o amor,

na curva dos meus sorrisos distraídos,

no jeito que seguro uma xícara,

no modo como olho o pôr do sol.

 

Saudade, percebo agora, não é ferida que sangra,

é cicatriz que brilha sob a luz do tempo.

É o eco do amor que não morre,

que transborda a ausência e se faz presente.

É o reflexo de quem fomos,

o abraço de quem ainda somos,

a promessa de que o que é eterno jamais se perde.

 

E assim, aceito a saudade como o que ela é:

não um vazio, mas uma plenitude invertida,

não um adeus, mas um \"até sempre\".

Ela é a prova de que amei,

de que fui amado,

e de que o amor é um pássaro que nunca deixa de voar.