Umbra Hera Carvalho

A Dança

Tome agora um chá de impurezas,  

Pois a incerteza há de chegar.  

Tome um porre, dois porres  

Dessa bebida sem par.  

Um dia a vida te dá,  

Outro dia ela te toma.  

A inconsistência do agora  

É a certeza que se torna amanhã,

Pois nada poderá mudar  

O que aconteceu ontem.

 

Agora dance comigo

Venha, eu não sou feia,

Sou apenas a morte.

Se deram comigo os príncipes, o clero e a sorte.

Venha, dance comigo 

Sou a única certeza que tens nessa vida mórbida.   

                                                                                                                                        

Agora você dança comigo  

Veja, sinta como os passos são limpos, turvos e sombrios.  

Este mundo é inútil, supérfluo

Me dá arrepios.  

Pegue na minha mão,  

Olhe para baixo, olhe para os lados.  

Nada se vê, nada se enxerga,  

Apenas eu e você.  

O abismo nos circunda  

E o brilho da vida se finda  

Numa noite obscura.

 

Não, eu não sou feia,  

Sou apenas a morte que rodeia  

Aqueles sem sorte,  

Que permeia a mente pobre,  

Que finda o findável norte.

Kairós não pode escapar de mim

Eu, tão belo Lorde

Que na mais discreta ordem  

Se vê a dois passos da sorte     

E você

Se vê a um passo de mim  

 

Seus olhos, como são atrativos  

diga-me

Você não tem nada a perder  

Seus lábios querem me dizer algo

Sua mente já me grita,   

Seu coração já é meu.

Sim, sua vida já se finda.

  

Deixe esse mundo

uma geração sem sorte, sem nome, sem dose.

Venha, dance comigo;

Eu sou a morte.

A mesma que acompanha Persefone no seu torpe, 

Forte 

Aquela que eclode no submundo esnobe,

sem fome, sem porte.