Sezar Kosta

COMO O AMOR SUPERA O MEDO E TRANSFORMA A DOR

O amor se insinua como um vento mudo,

sem anúncio, sem pressa,

chega, invade, e dissolve o medo

como chuva que toca a terra,

tornando-a fértil, pronta para o que virá.

Ele não se importa com os muros

que erguemos em nome da segurança;

sabe que nenhuma barreira

pode impedir o pulsar de um coração.

 

Na vida cotidiana, ele é o gesto simples

de segurar a mão na madrugada,

quando as palavras se perdem na solidão do silêncio.

Nos cansaços, ele é o abrigo,

na saudade, o fio invisível

que une o ausente ao presente.

 

Há um peso no ciúme,

uma chama que queima, mas não consome,

ainda assim, o amor atravessa essa fumaça

e encontra o ar fresco da paz.

Ele é a promessa de que tudo se cura,

não pelo esquecimento, mas pela aceitação

do que somos — frágeis, mas inteiros.

 

A tentação da dor nos chama,

mas o amor nos ensina a dançar com ela,

a transformar cada passo em aprendizado.

Ele não promete um céu sem nuvens,

mas garante que, após o trovão,

seremos mais inteiros, mais vivos na nossa imperfeição.

 

E no fim, quando o vazio parecer mais profundo,

o amor será a última chama acesa,

a certeza de que, ao voltar,

nossa casa será sempre um refúgio.

Porque, mesmo nas noites mais longas,

ele nunca nos abandona.

Ele é o silêncio entre os ecos,

o único lugar onde finalmente

encontramos a paz.