O amor se insinua como um vento mudo,
sem anúncio, sem pressa,
chega, invade, e dissolve o medo
como chuva que toca a terra,
tornando-a fértil, pronta para o que virá.
Ele não se importa com os muros
que erguemos em nome da segurança;
sabe que nenhuma barreira
pode impedir o pulsar de um coração.
Na vida cotidiana, ele é o gesto simples
de segurar a mão na madrugada,
quando as palavras se perdem na solidão do silêncio.
Nos cansaços, ele é o abrigo,
na saudade, o fio invisível
que une o ausente ao presente.
Há um peso no ciúme,
uma chama que queima, mas não consome,
ainda assim, o amor atravessa essa fumaça
e encontra o ar fresco da paz.
Ele é a promessa de que tudo se cura,
não pelo esquecimento, mas pela aceitação
do que somos — frágeis, mas inteiros.
A tentação da dor nos chama,
mas o amor nos ensina a dançar com ela,
a transformar cada passo em aprendizado.
Ele não promete um céu sem nuvens,
mas garante que, após o trovão,
seremos mais inteiros, mais vivos na nossa imperfeição.
E no fim, quando o vazio parecer mais profundo,
o amor será a última chama acesa,
a certeza de que, ao voltar,
nossa casa será sempre um refúgio.
Porque, mesmo nas noites mais longas,
ele nunca nos abandona.
Ele é o silêncio entre os ecos,
o único lugar onde finalmente
encontramos a paz.