Há um deserto dentro de mim,
onde a areia canta ao vento,
e cada grão é uma ausência.
Caminho descalço,
os pés rachados de perguntas:
o que é amar, senão perder-se?
O que é estar só, senão encontrar-se?
No horizonte, um oásis cintila.
Seus olhos, talvez. Suas mãos.
Ou apenas uma miragem —
a promessa de que alguém
pode ser casa,
quando o próprio corpo é labirinto.
Mas amar é escalar montanhas internas,
onde as pedras sussurram memórias
de quedas antigas.
É sentir as paredes do peito
se expandirem e racharem,
como uma árvore que cresce
em meio ao concreto.
E na solidão?
Ela é o poço que me chama à noite,
com sua água escura e fria,
onde mergulho para ver meu rosto.
Mas quem sou eu,
senão a soma de tudo o que perdi?
O eco de todas as vezes
que estendi a mão
e encontrei o vazio?
Ainda assim, desejo.
Desejo como quem deseja a chuva,
mesmo sabendo que ela afoga.
Desejo como quem deseja o fogo,
mesmo sabendo que ele consome.
Porque amar não é um destino,
é um rio que corre para lugar nenhum,
e ainda assim, molha a pele,
limpa as feridas,
carrega pedaços de nós
que nunca voltarão.
O amor verdadeiro, se é que existe,
não é porto, mas mar.
E o mar é belo porque nunca se deixa prender.
Então caminho.
Sozinho, às vezes.
Junto, outras.
Com as mãos cheias de encontros
e os bolsos cheios de despedidas.
E aprendo que o amor,
antes de ser um \"nós\",
é o espaço entre os dedos,
o silêncio que ecoa no abraço.
Talvez amar seja isso:
dançar na tensão entre o vazio e o encontro,
entre a areia do deserto
e as ondas do mar.
Aceitar que nunca seremos inteiros,
mas que, ainda assim,
vale a pena oferecer ao outro
o pedaço que resta.