Sezar Kosta

O AMOR ENTRE O DESERTO E O MAR

Há um deserto dentro de mim,

onde a areia canta ao vento,

e cada grão é uma ausência.

Caminho descalço,

os pés rachados de perguntas:

o que é amar, senão perder-se?

O que é estar só, senão encontrar-se?

 

No horizonte, um oásis cintila.

Seus olhos, talvez. Suas mãos.

Ou apenas uma miragem —

a promessa de que alguém

pode ser casa,

quando o próprio corpo é labirinto.

 

Mas amar é escalar montanhas internas,

onde as pedras sussurram memórias

de quedas antigas.

É sentir as paredes do peito

se expandirem e racharem,

como uma árvore que cresce

em meio ao concreto.

 

E na solidão?

Ela é o poço que me chama à noite,

com sua água escura e fria,

onde mergulho para ver meu rosto.

Mas quem sou eu,

senão a soma de tudo o que perdi?

O eco de todas as vezes

que estendi a mão

e encontrei o vazio?

 

Ainda assim, desejo.

Desejo como quem deseja a chuva,

mesmo sabendo que ela afoga.

Desejo como quem deseja o fogo,

mesmo sabendo que ele consome.

Porque amar não é um destino,

é um rio que corre para lugar nenhum,

e ainda assim, molha a pele,

limpa as feridas,

carrega pedaços de nós

que nunca voltarão.

 

O amor verdadeiro, se é que existe,

não é porto, mas mar.

E o mar é belo porque nunca se deixa prender.

 

Então caminho.

Sozinho, às vezes.

Junto, outras.

Com as mãos cheias de encontros

e os bolsos cheios de despedidas.

E aprendo que o amor,

antes de ser um \"nós\",

é o espaço entre os dedos,

o silêncio que ecoa no abraço.

 

Talvez amar seja isso:

dançar na tensão entre o vazio e o encontro,

entre a areia do deserto

e as ondas do mar.

Aceitar que nunca seremos inteiros,

mas que, ainda assim,

vale a pena oferecer ao outro

o pedaço que resta.