Oi, prazer
É assim que os dias se arrastam,
uma apresentação infinita a mim mesmo,
um ritual onde me reconheço apenas para sofrer de novo.
Saí, mas a porta ficou entreaberta,
não por escolha, mas por fraqueza,
por mãos trêmulas que já não seguram o peso
de fechar o que nunca deveria estar aberto.
Pela fresta pode passar tudo,
ou nada.
E o nada, sempre tão fiel,
se instala como fumaça,
uma ausência densa que sufoca
mais do que qualquer tempestade.
Filmes, cenas, quadros,
todos viram retratos mortos,
sombras impressas sem movimento,
porque nada mais me comove.
Nem lágrimas, nem risos, nem cores.
Só um véu preto, uma fotografia manchada
que ninguém pendura na parede.
E assim sigo,
entre portas mal fechadas e frestas infinitas,
vivendo o ciclo vicioso de me reapresentar
ao mesmo vazio.