Julia Oliver
Por que você escreve?
Acredito que todo ser que produz algo, ao menos uma vez, indagou a si mesmo sobre o propósito de fazê-lo. No viés da escrita não seria diferente, então: por que você escreve? Ou, neste caso, por que eu escrevo?
Admito não ter consciência de quando a escrita começou a fazer parte da minha efêmera origem, mas foi naquele exato momento em que eu comecei a existir. Comumente digo que os escritores são bichos curiosos, podem falar sobre tudo, questionar o mundo, representar tudo: resistência, amor, ódio, guerra, terror e paz. Um autor consegue dar sentido e impactar aquele que o observa com apenas uma frase, sendo capaz de comover ou ensinar através de páginas riscadas. Um poeta é capaz de juntar de forma tão precisa os sentimentos jogados dentro de si que tem a habilidade de confortar - ou confrontar - aquele que o recebe.
Considero-o um astronauta capaz de ver mundos, um gênio da lâmpada que coloca universos na mão de quem o lê. Uma emissora concebida em letras e uma estrela cadente que realiza desejos - os quais por vezes nem se imagina ter. O escritor é tudo que se pode pensar que ele pode ser, um indecente que incomoda com a sua escrita, ou um conservador que preserva o conhecido. Ele é uma composição de mundos, sensações e histórias - ele é a curiosidade em formato humano. Ele é o que eu sou: a existência pautada em palavras, a liberdade em se ser quem é, a possibilidade de estar nua e vulnerável às próprias emoções. Minhas linhas são sentimentos expostos, feridas abertas, vestígios e cicatrizes do que amei até aqui. Assim, escrevo pois a liberdade contida no ato de ser autêntica me excita, arrepia-me a mera chance de ser real, de representar a síntese de um uma vida comum, banal, mas que me pertence.
Eu não seria quem sou se não escrevesse e caso um dia eu deixe de escrever eu também deixarei de existir. A escrita é uma característica vital do escritor, a respiração de um poeta e o seu existir. Devanear sobre o papel é um caminho sem volta do qual ninguém quer regressar, uma dádiva.